A forma de se alimentar que transforma você e o mundo: interna e externamente
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A forma de se alimentar que transforma você e o mundo: interna e externamente

27 de outubro
Criado por: Gabriela Casartelli

Escrevo esse texto depois de passar dois dias em sequência no meio da natureza cuidando, molhando e colhendo o alimento que amanhã eu vou comer. Vendo de perto e sentindo na pele essa energia real (não só simbólica, também, mas não só) que existe entre a terra, as plantas e os animais – entre eles nós humanos. Escrevo depois de olhar no calendário e perceber que colhi, comi e, mais que isso, espalhei pela cidade “grande” as plantas das mesmas sementes que, há menos de dois meses eu mesma ajudei a plantar. É sobre isso, e não tá tudo bem.

Ver essa mágica, transformação, geração de vida acontecendo é emocionante. O que parece trivial, automático, simples – afinal, comida é algo que está todos os dias nos nossos pratos – requer trabalho, dedicação, atenção, o montante adequado de água, sol e adubo. Assim como qualquer outra vida para existir e prosperar: atenção, cuidado e amor.  Da mesma forma, essas mesmas plantas abrem espaço para o novo quando entregam o seu propósito – nascer, abrir espaço na terra, brotar, florescer e gradativamente perecer. Algumas voltam no ano seguinte, outras nos deixam para sempre. Sem dor, entendendo que é esse mesmo o processo da vida. Entender que tudo é finito até o que é belo, delicioso e que a gente gostaria que durasse para sempre. E, de alguma forma vai, né?

Se, como eu, você acredita que fazemos parte de uma teia interconectada de vidas/energias e, com o perdão da referência, entendeu a moral da história do Mufasa, Simba e Rafiki, conhece o ciclo da vida e sabe que tudo que existe faz parte de “um equilíbrio delicado”. Talvez tenha sido o Rei Leão ou a proximidade e o acesso ao interior, ao campo, familiares e pessoas muito próximas que me mostraram tudo isso, seja lá o que causou ficou tão marcado que não vejo outra alternativa a não ser me aproximar dessa fonte de energia e saberes infinitos cada vez mais.  Algo que além de ser belo e emocionante,  que além de ser completo em si, tem a capacidade de nutrir outros seres. É, no mínimo, um desrespeito olhar para o alimento que vem da terra e não reconhecer a beleza da vida, não querer enaltecer essa  (na falta de uma palavra mais prática, porque talvez não haja) magia da vida, o resultado do poder e da força de transformação da natureza – esses mesmos que nós, como raça humana, não cansamos de destruir.

A minha intenção com esse texto era de reforçar a importância, e a urgência, de nos reconectarmos com a natureza para então nos reconectarmos com os alimentos que chegam até nós e que nos nutrem diariamente. Destacar, alertar,  levantar a questão de que justamente por causa desse afastamento centenário que há entre os cidadãos das grandes cidades ou compradores de comida em pacote (que infelizmente estão no campo também) e os processos que o alimento passa antes de virar a comida do prato.  Essa distância entre o prato, a cozinha e a vida do alimento, a vida da planta  – tudo que ela passou até chegar nos lares sendo plantada, mudada, irrigada, adubada, tratada, cuidada e defendida de pragas SEM VENENO, colhida, transportada, empacotada – é o que faz cada vez mais as pessoas se afastarem e não entenderem a importância desse alimento saudável. Dessa forma, acabam optando por conveniências, sabores artificiais ou mais fortes e, claro, tudo justificado pelo merecimento, recompensas e praticidades do sistema que nos faz ter pressa e não ter tempo para dar atenção ao que nos mantém vivos, felizes e operantes: o alimento, a nutrição.

São essas iscas de ilusão que nos fazem desconectar do todo, pacotes brilhantes que parecem melhorar as nossas vidas enquanto nos afundam mais ainda na nossa ignorância e ilusão. E falo “nós”, porque todos passamos por isso. Sob o comando de gatilhos e desejos que viciam o corpo, e as vezes até a mente, vamos perdendo muito mais do que a nossa saúde. Perdemos consciência da nossa importância, força e, inclusive poder de decisão e transformação nesse sistema que não é imutável e muito menos perfeito.

Gabriel Riva Matias: “a biodinâmica é a agricultura orgânica com um tempero a mais” (Foto: Laura Neis/Divulgação/Sul21)

Finalizo com um convite-meio-tema-de-casa, para o próximo final de semana ou próximo mês, quem sabe: se existe alguma possibilidade de você plantar qualquer coisa na sua janela, mesmo que em um vasinho, plante. Se existe a possibilidade de você visitar a zona rural da sua cidade, visite. Se existe a possibilidade de você comprar seus alimentos diretamente do produtor, em feiras orgânicas e de bairro por exemplo, compre. Inclusive, nesse site incrível tem um mapa do Brasil com várias feiras orgânicas registradas. Além de ser mais barato que nas grandes redes de supermercado, é também muito menos (ou zero) venenoso e – para seguir a linha do texto, falaremos de agrotóxicos em outro post- muito mais próximo daquele que cuidou de cada passo para aquele alimento estar ao seu alcance. As barreiras que os pequenos produtores rurais enfrentam são grandes, e as dificuldades vencidas uma a uma, com muito suor – não literal – como bem aborda a pesquisa de Joice Inês Kist que trabalhou com 15 unidades familiares localizadas nos municípios de Arroio do Meio, Lajeado, Cruzeiro do Sul, Rio Prado e Dona Francisca, interior do estado do Rio Grande do Sul.

Participe e incentive iniciativas de produção de alimentos em espaços públicos, cobre dos representantes do município que sigam o exemplo da prefeitura de São José dos Campos que, além do cultivo, também abriu espaço para a troca de conhecimentos no projeto chamado Ecomuseu, assim como também de Florianópolis, onde foram criados 12 canteiros e uma leira de compostagem

Se você tiver a oportunidade de plantar ou, quem sabe, colher uma coisa com a suas próprias mãos faça isso. Procure ao máximo o produto na sua forma mais original, sem pacote, sem estar cortado ou, como gostam de chamar, “limpo”. Fuja da conveniência. Não tenha medo da terra, beterraba nasce embaixo dela, é uma raiz – claro que vai ter terra. Não tenha medo dos bichinhos que, sem querer, ficam entre as folhas da couve que você compra. Essa é a prova de que ali existe natureza pura, e não veneno. Evite sim frutas, legumes e hortifruti que vem em plásticos, infelizmente nenhum desses plásticos (ou muito poucos) são reciclados.

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Quanto mais a gente se aproxima desse veículo de cura que é o alimento, quanto mais a gente se conecta com o processo, com esse caminho que a comida faz dentro e fora de nós, mais valiosa essa relação vai se tornando, mais benéfica é a troca, mais significação a gente dá ao que vai comer, mais visíveis são os resultados desse vínculo virtuoso. E essa conexão pode ser muito verdadeira, muito intensa e profunda. Quando se está conectado com a natureza, quando se percebe como parte de totalidades maiores – não como seres isolados e sim como parte de um coletivo não só humano, mas de um ecossistema muito mais complexo e completo – é possível entender uma conexão única, inexplicável. E, assim, quem sabe, chego mais perto de tentar explicar melhor aquela “magia” que eu trouxe no início do texto: relações e experiências que nos que nos re-ligam, que nos re-conectam com sentimentos e sensações profundas quem sabe não são exatamente o que tanto buscamos e que sempre esteve embaixo dos nossos pés? 

Religar, em latim, dá origem à palavra religião. E, entre tantas religiões, escolher a da natureza salvaria todos nós sempre precisar de juízo final.