



Mais do que um esporte: os benefícios do surfe do bem estar à natureza
Quando a gente pensa em um exercício consciente, presente e atento normalmente não é o surfe que vem imediatamente à mente. Talvez pilates ou yoga? Quem sabe. Mas quanto mais eu acompanho e observo os surfistas (entre eles meu irmão, e sim, esse texto é para ele) eu entendo a similaridade que o esporte tem com a atenção plena, com a presença e com o yoga.
Assim como na prática de asanas, no surfe é necessário força, habilidade e autorreflexão. É preciso paciência, e muita coragem. Normalmente quem pratica o “surfe fora do mar” também é alguém preocupado com a natureza, faz serviços para a comunidade e tem senso de coletividade e companheirismo.
Sim, esse é o primeiro ponto: a “sangha” ou o grupo. Dependendo de onde você for surfar, é muito importante que você tenha um grupo. Não precisam necessariamente ser amigos, mas que existam pessoas lá e que saibam que você também está lá. Essas pessoas mesmo sem conhecer você vão torcer por você quando você estiver no lugar certo e na hora certa de pegar uma onde que é só sua. Cada grupo e comunidade é única, porque compartilha um espaço também único – que os une. Fortalecer esse grupo é fortalecer a localização, a comunidade, a natureza local. Fortalecer o micro fortalece o macro.
O surfe tem valores que já foram ignorados, e ainda são, por muita gente. Mas é um esporte que merece reconhecimento. Além de ser uma forma completa de exercício, é um exercício que é feito diretamente em contato com a natureza. Ele NÃO EXISTE sem a natureza. Mais uma das razões por esse esporte ser tão conectado com pautas ambientais. Além disso, a conexão com a natureza acontece em um nível muito mais prático e direto, além de “só” estar no oceano. A vida selvagem que mora ali no mar divide sua casa com o surfista visitante que for sortudo ou habitual. Depois de um tempo, para eles (os surfistas) fica até “normal” compartilhar o espaço com golfinhos, tartarugas, leões marinhos, arraias, peixes e talvez até com tubarões. Surfar é se conectar e se comunicar com a natureza de uma maneira muito profunda e especial.
É por isso que a simples existência dos surfistas é uma ação prática a favor da natureza. Enquanto houver pessoas suficientes interessadas em pegar ondas, haverá pessoas interessadas em cuidar e manter e cuidar desses espaços tão valiosos. Nenhum surfista quer surfar em um oceano poluído e cheio de plástico e, por isso, muitas vezes eles são vistos como chatos ao invés de serem percebidos como protetores das praias.
Ele é também um dos esportes mais difíceis que existem: só quem já tentou se equilibrar em uma prancha sabe o quanto isso exige do corpo e da mente. No corpo, a força e estabilidade do core, além da inteligência no uso das pernas é bastante impressionante. Você tem que entrar no ritmo do oceano, porque ele não para de se mexer embaixo de você nem por um milésimo de segundo. Equilíbrio, ritmo e força – não é necessário dizer que o surfe exige habilidade.
Requer presença: aprender a ouvir e ler o mar, limpar a mente, se concentrar, ouvir seu corpo, confiar no que já vivenciou, se sintonizar ao movimento da onda. Dessa forma o surfista flui com a energia da natureza ao seu redor. Quando há ondas, quando há espaço, quando há oportunidade para surfar, o surfista surfa. Mas muitas vezes ele vai estar no mar e pegar poucas ou nenhuma onda.
Mesmo sem onda, simplesmente estar no oceano é uma forma de se ouvir e também de entender quão pequenos somos perante a natureza e quão grande ela é. O oceano aqui é uma representação desse todo: ele puxa você para a realidade, coloca no seu lugar, preenche vazios mostrando que você faz parte desse todo, mas não o coloca no centro de nada. Ele limpa o corpo por fora e também a mente por dentro, ele traz vida e potência para cada ser vivo que se deixa ser tocado por ele.
Os benefícios do surfe são físicos, mentais, sociais, psicológicos e, porque não, espirituais. Nesse Dia Internacional do Surfe (sábado, dia 18/6) celebro esses esportistas e esse esporte. Que nós, não surfistas, azarados não moradores de áreas litorâneas possamos ver o valor desse esporte para a sociedade e para a natureza. Que possamos fazer a nossa parte para ajudar a salvar nossos oceanos. Tanto pela natureza, pelos surfistas como por nós mesmos – para que esses mares como a gente os conhece estejam lá na próxima vez que pudermos viajar e pegar ondas (ou só chegar perto delas).
Nota da autora: Eu não sou surfista, nunca fui. Subi em uma prancha de SUP uma vez e achei a sensação incrível. Eu amo o mar. Estar nele me preenche. Pensar sobre o meu irmão, sobre o surfe, sobre o mar me fez escrever esse texto que talvez para surfistas experientes seja óbvio ou besteira, mas é tudo escrito com a admiração de quem olha de fora e admira o trabalho, a coragem e a conexão que existe desse esporte com a natureza. Espero um dia ter a oportunidade de chegar perto de surfar. <3 Gui, te amo. Se cuida com os tubarões e não vai muito no fundo! 🙂