



Mulheres, sexo, desejos e a expressão deles: por que o sexo é, sim, político?
O sexo é um ato político. Quando vivemos em comunidade, as nossas decisões enquanto indivíduos impactam o coletivo no qual estamos inserides. Acreditar que porque não gostamos de política não fazemos política é uma ilusão, nós fazemos política o tempo todo. Se existe uma estrutura social vigente e escolhemos ser a favor ou contra essa estrutura estamos fazendo política agindo para que essa estrutura se mantenha ou para que ela se transforme. O que nós comemos é político, o que nós bebemos é político, os lugares que escolhemos frequentar é uma decisão política, as roupas que compramos e onde compramos, como nos relacionamos e com quem nos relacionamos é político.
O sexo, assim como o amor, é político. Com quem decidimos nos relacionar amorosamente e sexualmente é extremamente político também.
Eu saí com um homem com alguma frequência durante aproximadamente um ano. Era uma relação sexual e casual, nenhum dos dois buscava naquela relação nada além do que ela era, era uma relação satisfatória para ambos.
Em um encontro, eu lhe pedi que fizesse sexo oral em mim, ele atendeu meu pedido como uma brisa tão sutil que eu nem pude notar, foi breve, como um vento que passou. Mas, nesse mesmo encontro, ele soube orientar a minha cabeça na direção do seu pênis para que eu fizesse sexo oral nele. Eu observei aquilo naquele momento, mas deixei seguir afinal havia outros elementos do sexo que me davam prazer e eventualmente nós dois atingimos o orgasmo e o sexo terminou.
O sexo foi bom, mas eu fui para a casa reflexiva e decidida de que aquilo não iria se repetir. Poucos dias depois ele me mandou mensagem me convidando para ir a sua casa, então, eu decidi que era um bom momento para alinharmos as nossas expectativas do que dizia respeito a nossa relação sexual casual.
Eu lhe respondi que nós poderíamos continuar nos vendo, mas que eu queria esclarecer algo. Lembrei a ele do meu pedido que não havia sido atendido. Reforcei que a nossa relação era sexual e casual e que havia coisas no sexo que eram indispensáveis para mim e que se aquele comportamento fosse se repetir eu não estava interessada em seguir aquela relação. Ele se desculpou, disse que às vezes não sentia vontade mesmo e, desde então, não nos falamos mais.
E porque eu estou partilhando algo pessoal?
Bom, posso enumerar duas razões principais:
- Retirar essa carga geracional negativa de cima do sexo. As pessoas fazem sexo, ponto final. Quanto mais falamos sobre as coisas de forma natural mais elas são naturalizadas na nossa mente e deixa de ser visto com preconceitos sem sentido.
- O pessoal é político. Se eu não me sinto minimamente desconfortável falando sobre sexo e se a minha postura, de certa forma, pode ser um convite à reflexão, então eu entendo que é um dever social fazê-lo.
Nós mulheres, principalmente mas não exclusivamente, precisamos saber quais são os nossos quereres indispensáveis e expressá-los. E se ainda não sabemos quais são esses quereres, temos que pesquisar, investigar, explorar até descobrirmos.
Identificar os nossos quereres e expressá-los é uma questão de prática. E, lembrando, também é político. Temos que nos educar para tal. Afinal, não fomos educadas nem para saber o que queremos, imaginem se estamos prontas para falar em voz alta? As gerações anteriores tampouco sabiam como, para então nos ensinarem.
Como a nossa geração será lembrada? Qual o legado que vamos deixar para as mulheres das próximas gerações? Isso é fazer política, é gerar posicionamento e pensamento feminista e promover a liberdade e igualdade de querer e de expressar.