Observe sua urgência: como respeitar o tempo diferente das outras pessoas
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Observe sua urgência: como respeitar o tempo diferente das outras pessoas

05 de dezembro
Criado por: Aline de Andrade

Quem nunca (ou melhor, quem sempre?) já teve que lidar com aquela coisa chamada “o tempo do outro”? E tendo que passar por isso, sentiu dificuldade? As situações podem ser diversas: no trabalho, nas relações amorosas e até em interações com desconhecidos. Independente da ocasião, a sensação de ser submetido ao tempo do outro pode ser um gatilho de ansiedade.

Por exemplo, quando o ritmo de envolvimento do outro é mais lento, mas sentimos urgência e vontade de avançar fases de um relacionamento que está em construção, por exemplo. Ou quando, no ambiente profissional, tomamos como padrão a velocidade com que fazemos nossas tarefas. Mas não só em ambientes nos quais estamos profundamente envolvidos, como relações amorosas ou de trabalho, mas também em momentos cotidianos na rua, nos estabelecimentos, com conhecidos ou desconhecidos.

De fato, lidar com o tempo do outro pode mesmo ser desconfortável. Quando a questão é ritmo, o tempo individual de cada um tem como embasamento a construção de vida e a forma de funcionamento do sujeito em questão. Até aí tudo bem, mas o conflito começa quando comparamos a forma como NÓS funcionamos e a partir dela julgamos que essa é a forma correta para todos e ponto – o resto que se ajuste. 

Porém, quando apontamos o tempo do outro como sendo “lerdo” ou “devagar” em relação as nossas expectativas, precisamos entender que, primeiro: ambas as palavras têm significados a partir da perspectiva individual de cada um, então o que é devagar para mim pode não ser para o outro. E segundo: em situações assim estamos usando como parâmetro o nosso ritmo individual – mas que não é o único ritmo do mundo, e nem existe um único tempo certo para todos.

Para fugirmos dessa encrenca, precisamos olhar internamente e pensar: “ok, esse é o meu funcionamento, mas ele não é o certo para todos.” Afinal de contas, tem muita história e vivências que influenciam no comportamento de quem é mais acelerado – ou menos.

Em qualquer ponto de um relacionamento, é essencial que falemos para o outro o que precisamos e esperamos, mas vale lembrar que cada palavra tem um significado diferente para cada um de nós – tal qual o tempo. Segundo a psicanalista e especialista em educação não-violenta Elisama Santos, um dos maiores problemas nas relações é a falta de conversa sobre o significado das palavras para cada um de nós. 

Ela ensina que, na nossa comunicação com o outro, temos a tendência a falar uma coisa desejando outra, não tendo a coragem de falar exatamente o que queremos ou até mesmo sem nem ter a consciência do que realmente queremos. E quando o outro fala, o escutamos pensando que ele também está falando uma coisa e desejando outra, e aí respondemos ao outro conforme o cenário que montamos na nossa cabeça – que muitas vezes é um cenário equivocado.

Quando falamos do tempo do outro, é sobre respeitar a existência do outro e o seu ritmo, lidando nós mesmos com as nossas frustrações e expectativas.

Vale o lembrete: não há um único tempo e ritmo certo de lidar com os relacionamentos, com o cotidiano e com a vida. Entender e respeitar o seu próprio tempo é saudável e fundamental, mas respeitar o do outro também é. 

E se às vezes o seu tempo não “bater” com o do outro, que tal conversarem para encontrar um ritmo parecido para dançar? 

Abraços, Aline.