



Quem é a feminista branca?
Talvez você já tenha ouvido críticas sobre as “feministas brancas”. Pois bem, quando falamos de “feministas brancas” não estamos nos referindo, necessariamente, a feminista da raça branca, da pele branca e etc., mas sim analisando àquelas mulheres que acreditam e/ou praticam um “feminismo” que está alinhado ao “pacto narcísico da branquitude”. Então, se você que lê é uma mulher branca que se considera feminista, não precisa se sentir obrigatoriamente atingida. Em todo caso, convido a refletir comigo.
Que “pacto da branquitude” é esse? O pacto que define a organização estrutural e institucional da sociedade e dos espaços. O pacto da dominação sobre o outro, da hierarquia, da subordinação. O pacto do individualismo, que considera o empoderamento algo isolado (individual ou apenas pensando no próprio grupo) e não coletivo, pra todes. Um feminismo pautado no “eu posso”, desconsiderando outras que ficaram pra trás.
O “feminismo branco” também considera que já sabe de tudo e que não existe mais nada há se aprender com outras mulheres, outras culturas, porque é assim que funciona a branquitude: como um lugar de privilégios simbólicos, subjetivos, objetivos, sendo usufruídos cotidianamente. O feminismo das verdades absolutas. Ou seja, estuda-se e expande-se pouco, porque não há necessidade para tais esforços, uma vez que em muitos momentos a estrutura coloca essas mulheres a frente de outras.
Sendo assim, o “feminismo branco” age como homogêneo, “somos todas iguais”, desconsiderando atravessamentos por diversas outras opressões em outras mulheres.
Essas “feministas brancas” sofrem com o machismo, sexismo e misoginia e com toda violência patriarcal, mas, muitas vezes, se manifestam de acordo com a conveniência, para defenderem a si mesmas (fazendo uso da “sororidade”), mas pouco dispostas a falarem e se posicionarem contra o racismo quando o que está em jogo é a discussão sobre o lugar da mulher negra. Nesses casos, preferem “ir com calma”, chamando as mulheres não brancas de “agressivas”. Em muitos momentos, também se omitem, usando a falta “lugar de fala” como desculpa para o silenciamento.
Por isso, também é o feminismo do “ninguém solta a mão de ninguém”, mas que solta, eventualmente, por não quererem se expor e se indispor em situações necessárias.
O feminismo branco é o feminismo da TV, dos filmes de grande bilheteria e que a maior parte das marcas faz uso, capitalizando uma ideologia de transformação social para se conectarem com essas “novas mulheres”, reforçando meritocracias.
Toda mulher branca é uma “feminista branca”? Não. Mas há de se fazer um grande esforço pra isso. Toda mulher não branca não é praticante deste “feminismo branco”? Também não, porque somos todas atravessadas pela mesma estrutura pautada nos ideias da branquitude. Por que falar sobre isso é importante? Porque, como diria Bell Hooks, o feminismo deve ser de todes. Caso contrário, ele não será.