Sentir compaixão já te cansou?
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Sentir compaixão já te cansou?

06 de outubro
Criado por: Aline de Andrade

Já aconteceu de você tentar ajudar um amigue ou alguém a lidar com uma situação pessoal mas acabar sentindo junto uma sobrecarga emocional? É claro que, dentro das particularidades de cada realidade, cada um vai sofrer com essa cobrança em níveis diferentes. Talvez você se trate como prioridade na relação amorosa, mas tenha uma mãe que demanda toda uma carga emocional para questões que são só dela, por exemplo. Ou talvez você saiba separar bem o que é demanda sua e o que é dos outros.

Podemos concordar que ser uma pessoa empática e disponível para aqueles que amamos é uma das qualidades mais bonitas, sim… Mas, na próxima vez que formos ouvir e ajudar alguém, que tal nos perguntarmos:

“Será que estou vivendo as crises na relação do __________ como se fosse minha?” – Se a nossa resposta for afirmativa, opaaa, voltemos duas casas.

Para evitar casos extremos de “Síndrome do Desgaste por Empatia” ou “Fadiga por Compaixão”, nomeada pelo psicólogo Charles Figley para se referir à “exaustão emocional que certos profissionais sofrem por trabalhar com clientes traumatizados”, precisamos lembrar de que o sofrimento do outro não é o nosso, e avançarmos com a nossa ajuda sem abraçarmos uma carga emocional que não é nossa.

Eu já senti isso algumas vezes, e quando recebi a newsletter da Obvious Agency que trazia o conceito de Burnout Empático à tona. Eu nunca havia ouvido falar em “burnout empático”, esse termo é totalmente novo para mim. Mas, ao ver esse post, tudo fez sentido aqui dentro. A ideia é que o burnout empático acontece quando a gente se conecta tanto com o sentimento da outra pessoa, que acaba sofrendo junto com ela.

Além de concordar que, em nós mulheres, esse comportamento seja mais corriqueiro – e saber que isso é uma construção social que impôs ao gênero feminino ser “cuidador”, deixando a própria mulher em segundo plano – percebo que é supervalorizada aquela mulher que pensa mais no outro do que nela mesma, caracterizando o oposto como “egoísmo”.

Nesse ponto, de acordo com a antropóloga e professora da Universidade da Califórnia Sarah B. Hrdy o “instinto materno” ou aquela suposta atitude programada feminina, não existe. Ela acredita que o que acontece, na verdade, é uma predisposição biológica para o investimento no filho – determinada pela fria relação entre custo e benefício.

“Todas as fêmeas mamíferas têm respostas maternas, ou ‘instintos’, mas isso não significa, como muitas vezes se supõe, que toda mãe que dá à luz está automaticamente [pronta] para nutrir sua prole”, diz Hrdy. “Em vez disso, os hormônios gestacionais estimulam as mães a responder aos estímulos de seu bebê e, após o nascimento, passo a passo, ela está respondendo às sugestões biológicas.”

Ou seja, não: não faz parte de ser mulher ter que ser responsável pelos outros. Isso é uma opção que cada indivíduo pode escolher fazer.

“A solução para a Síndrome por Desgaste de Empatia não está em bloquear os sentimentos negativos, e sim em passá-los pelo filtro da racionalidade: entender que o sofrimento humano é parte da vida e adotar os estímulos negativos será o primeiro passo para se tornar um ser empático realmente saudável e predisposto a colaborar”, observa María Dolores Sobrino, psicóloga e chefe do Departamento de Intervenções da Associação Aragonesa Pró-Saúde Mental (ASAPME), em entrevista sobre o assunto ao El País.

Sobrino também fala da importância de cuidarmos de nós para podermos ajudar os outros e observa como práticas de Mindfulness podem ser úteis. E completa: “quando se trata de enxugar lágrimas, é melhor que não se apresente um lenço já empapado.”

É isso. Cuidar antes de nós é, de alguma forma, cuidar dos outros – e isso não tem nada a ver com egoísmo.