



Sobre as mudanças recentes na minha vida: desafiador e maravilhoso
Sempre me disseram que eu tinha muitos sonhos. E por vezes isso vinha em tom de julgamento, como se fosse algo ruim e me deixava confusa. Pois bem, hoje vou trazer algumas experiências da minha vida – que é recheada de mudanças (e não estou só falando de mudanças de endereço, embora tenha feito algumas) – para pensarmos o quanto resistimos às transformações necessárias para seguirmos em frente.
Mudar é algo assustador, é para mim também. Porém se queremos caminhar, ir em frente, seguir o fluxo, melhorar enquanto pessoas ou apenas melhorar nossa rotina ou a de alguém próximo, mudar é absolutamente necessário. Olhemos para a natureza, tudo é transformação. E a natureza se programa apenas para o sucesso.
Do alto de muitos privilégios que possuo venho propor uma reflexão sobre o quanto nos movemos para onde queremos ir ou não. Essa história de sonhar não é apenas para as crianças. Sonhar por um mundo melhor é basicamente o que me move atualmente e sabendo que milagres dão muito trabalho, planto em mim sementes de mudanças que quero ver no macro, diariamente.
Eu nasci e cresci numa cidade pequena do interior do Rio Grande do Sul e mudei para Porto Alegre com 17 anos para cursar biblioteconomia na faculdade. Antes do estágio eu sabia que não era aquilo que queria fazer para sempre (será que existe algo que eu queria fazer para sempre?). Foi bastante frustrante saber disso, mas há um ano da formatura persisti e me tornei bibliotecária, profissão que exerci por 8 anos. Mais ou menos na mesma época que ingressei no mundo do trabalho formal, percebi que a Psicologia seria muito mais interessante pra mim, então enfrentei mais um vestibular e passei para o noturno, pois precisava trabalhar e estudar. No meu primeiro emprego, era bibliotecária de uma universidade reconhecida, mas meu horário coincidia com as aulas da faculdade, então quase dois anos depois decidi sair de lá e encontrar um trabalho que me permitisse estudar ao mesmo tempo. Fiquei mais seis anos num trabalho formal que eu amava, que me permitiu construir minha caminhada acadêmica na psico. Mas que também se encerrou e eu tomei a difícil decisão de sair. Essa decisão demorou mais de três anos para ganhar corpo e se concretizar de forma segura e confortável para mim.
Nas vezes que dei esses grandes passos, fui chamada de louca e acredito que tenham dito e pensado isso porque uma das consequências desses dois movimentos era ganhar menos dinheiro, pelo menos num primeiro momento. Porém, esses passos que parecem apenas profissionais na verdade tem mais a ver com a forma como eu quero levar a vida, com o fato de eu querer ter espaço para meus rituais, rotinas e simplicidade. Ou seja, sempre acompanharam grandes transformações internas e de relacionamentos.
Decisões que mudam rumos de vidas são extremamente difíceis. Não encorajo nem um pouco escolhas impulsivas que podem causar mais confusão e dano do que a sensação de alívio de tirar algo das costas. Percebam que, em ambas escolhas que descrevi acima, mais de anos foram necessários para construir o caminho que eu acredito ser o que eu deveria seguir. É muito fácil se cansar, achar que poderia estar melhor, que poderia se desenvolver mais, que poderia encontrar outras oportunidades e pessoas, mas o que fazer com essa sensação?
A provocação aqui é ouvir os sinais do que realmente te move. Apenas com autoconhecimento é possível perceber as mudanças que estão latentes querendo possibilitar uma melhora de vida, de relacionamento, de visão de mundo. Talvez a estabilidade financeira seja mais importante para você e tudo bem, pode-se trabalhar com a construção dela antes de decidir sair do trabalho formal, por exemplo. Talvez seja apenas medo do incerto e isso eu confirmo que é extremamente esperado. Mas achar que e possível saber o que virá é uma grande ilusão que nos contam (ou que contamos para nós mesmas) achando que assim teremos o controle sobre a nossa vida.
Mudar foi extremamente difícil para mim, especialmente essa última mudança onde eu estava confortável e feliz, em um trabalho do qual amava, com pessoas que eu admirava muito. Sempre que mudamos, nós e as pessoas mais próximas sentem o efeito e podem nascer inseguranças. Parecem apenas mudanças profissionais, mas não são. Tem a ver com a consciência de que estar onde não se quer afeta colegas e amigas que não tem nada a ver com o nosso descontentamento. Além disso, cada escolha, cada crescimento exige despedidas e perdas de algo que fica para trás. É inevitável. Não tem como voltar ao estágio anterior.
Vivemos em rede, nossas ações afetam sim muitas esferas da vida. Mas meu caminho seguiu, ainda incerto, inseguro, com frio na barriga sobre os próximos passos, mas com o coração leve e feliz de saber que abri espaço para todos os sonhos que ainda me habitam e que virão a habitar.